janeiro 06, 2011

A minha Avó Miana *

Faz hoje precisamente cinco anos que a minha avó Miana (assim foi baptizada pelo meu primo quando era pequeno) partiu. Partiu fisicamente, claro está, pois na realidade permanece na vida de todos nós nas mais pequenas coisas e actos. Nasceu no dia de Natal e partiu no dia de Reis, coincidência ou não, a verdade é que permaneceu junto de nós nas festividades, deixando-nos de certa forma reconfortados.
Pela saudade que deixou e pela falta que nos faz, não temos por hábito falar muito dela, pois a ferida ainda está bastante aberta e dói bastante recordar algumas histórias.

Mulher com uma vida simples e rural, passou-me saberes e valores que me acompanham desde sempre. Pela calma que sempre nos transmitiu e pelas palavras de sabedoria que tinha para nos oferecer, assumiu um papel de matriarca na família, sendo elemento preponderante na vida de todos nós.

Não posso dizer que me tenha ensinado alguma coisa relacionado com têxteis, bordados ou joalharia que eu tanto gosto, mas ensinou-me muitas outras coisas relacionadas com a vida rural por exemplo. É este misto de sabedoria e experiência que nos moldam e nos tornam aquilo que somos...

Como o meu avô faleceu tinha eu três anos, quase sempre vi a minha avó ostentando vestes negras. Destas destacam-se os brincos de ouro, pequenos e luzidios que a acompanharam quase até ao fim dos seus dias. Foram-lhe oferecidos pelo madrinha quando era criança, e deixados a mim, talvez por ser a continuação feminina da família. A minha avó, discretamente pensava em tudo!!!

A beleza está na simplicidade, e isso sim é difícil de conseguir. Reduzir ao essencial faz com que o belo se destaque de forma pura e natural. Na altura não compreendia a beleza daqueles brincos, mas hoje faz todo o sentido. Também eu só uso um colar muito fino de prata oferecido pela minha mãe e uma pulseira (mas essa mal se vê). Para quê mais?

Observadora como só ela sabia ser, tinha sempre uma palavra acolhedora para dizer, e por incrível que pareça, compreendia sempre os meus projectos de adolescente sonhadora, por mais "estapafúrdios" que estes podiam ser. Deu-me força e apoiou-me. Na minha primeira feira, já ela estava cansada, odiava andar de carro e dispensava confusão e barulho, mas lá foi ter comigo e marcar a sua presença.

Talvez por morar muito perto de mim, sempre tivemos uma relação muito próxima. Na escola primária passava por sua casa todos os dias. No outono assava castanhas na lareira para mim, noutro mês (não sei em qual!!!) debulhávamos milho, em Setembro colhia-mos figos (ainda hoje só como figos se for ao lado da figueira gigante da minha avó), se estava mau tempo ficávamos a ver televisão, íamos tirar os ovos das galinhas e por aí em diante.

A minha avó também tinha um burro quando eu era pequena. Ahhhh, como eu gosto de burros. Gostava mesmo de ter um, mas os meus pais não me deixam... São uns chatos!!!! Mas eu gostava... Muito!

Hoje o texto foi longo e muito pessoal. Apeteceu-me e hoje fez sentido. Foi uma pessoa que fez parte integrante deste projecto mas acima de tudo, da minha vida.

Onde quer que a minha avó esteja, tenho a certeza que continua a acreditar em mim e a dar-me alento e motivação para continuar a trilhar o meu caminho.

É certamente uma estrelinha, que brilha com mais intensidade no dias mais escuros e embora eu não a veja, lá está, olhando por mim.

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